No final de 2023, a International Data Corporation (IDC) publicou o seu IDC MarketScape: Worldwide Video Surveillance Camera 2023 Vendor Assessment (Avaliação mundial de fornecedores da càmara de videovigilância 2023) (documento n.º S51309223, outubro de 2023). Aproveitando vários métodos de pesquisa, o relatório descreve as exigências com que os atores do mercado são confrontados e fornece conselhos aos compradores de tecnologia que pretendem ponderar os prós e contras de diferentes fornecedores.
Esta semana, tivemos a oportunidade de sentar-nos com Mike Jude, analista da IDC, que nos deu uma valiosa perspetiva sobre a forma como a IDC vê o mercado da videovigilância e como ele o vê a evoluir ao longo dos próximos anos.
P. De que forma analisa o posicionamento atual do mercado da videovigilância em geral? Como descreveria o mercado?
Jude: "Diria que o mercado da videovigilância se encontra num ponto crucial neste momento, o que faz com que este seja um momento emocionante. Numa ampla gama de setores, existe esta perceção crescente de que os dados de vídeo podem servir como uma fonte de telemetria primária para plataformas de segurança física mais abrangentes. E quando combinada com outros sensores, a videovigilância não só pode melhorar a segurança física e a consciência situacional, como também pode servir objetivos de inteligência empresarial, como a utilização das instalações e a melhoria dos processos. Na verdade, a IDC tem dados de consulta que mostram que os profissionais de segurança física já estão a começar a pensar em termos de impacto empresarial aquando da análise de dados de videovigilância, em vez de se focarem exclusivamente na segurança."
P. O que promove atualmente as exigências dos clientes em termos de câmaras? De que forma é provável que isto mude?
Jude: "A segurança tem sido tradicionalmente o principal caso prático de utilização das câmaras de vigilância, e isso continua a ser verdade. A maioria das empresas com uma implementação significativa de câmaras e outros sensores de vigilância estão a utilizá-los para fins de segurança. Dito isto, um número cada vez maior de empresas está a descobrir que também podem aproveitar estes mesmos dispositivos para aplicações empresariais. Não é o principal impulsionador destes dispositivos - pelo menos ainda não - mas cada vez mais organizações estão a integrar telemetria de vídeo com informações de vários grupos empresariais e a utilizar essas informações para gerar informações úteis. Esta tendência irá tornar-se mais evidente à medida que avançarmos para o futuro."
P. Qual foi o âmbito deste relatório? (IDC MarketScape: Worldwide Video Surveillance Camera 2023 Vendor Assessment)
Jude: "O foco do relatório IDC MarketScape é a utilização comercial de câmaras de vídeo e foi impulsionado pelas necessidades e requisitos expressos pelos utilizadores. O objetivo era avaliar tanto os elementos impulsionadores como os obstáculos que afetam o mercado das câmaras de videovigilância e, em seguida, comparar estes fatores com fornecedores de câmaras representativos para ver como abordam esses elementos impulsionadores e obstáculos. Em particular, o relatório foca-se nas capacidades técnicas, na variedade das ofertas de câmaras e na capacidade geral de dar resposta às necessidades específicas dos atuais motores analíticos procurados. O relatório não se foca nas atuais capacidades analíticas, mas inclui conclusões sobre se os fabricantes de dispositivos podem ou não interagir com aplicações de análise. É importante realçar que um IDC MarketScape não é um "concurso de beleza", em que as posições relativas no gráfico IDC MarketScape comparam um fornecedor com outro. Na verdade, as posições no gráfico indicam as posições relativas dos fornecedores relativamente às necessidades do mercado, conforme revelado pelos inquéritos aos utilizadores da IDC."
P. O relatório avalia as empresas relativamente a dois eixos: capacidades e estratégias. Como define estas categorias e quais são alguns dos elementos mais importantes de cada uma?
Jude: "Pode pensar em "capacidades" como aquilo que um fornecedor consegue fornecer hoje. O eixo de capacidades avalia a proposta de valor atual de um fabricante para os clientes. "Estratégias", por outro lado, são as capacidades que provavelmente serão fornecidas ao mercado no futuro. Basicamente, a posição que um fornecedor ocupa no gráfico indica em que medida a IDC acredita que consegue satisfazer as necessidades atuais de um cliente, mas também a eficácia com que antecipa as necessidades futuras desses mesmos clientes. Desta forma, o gráfico não pretende ser uma imagem temporal, mas sim uma previsão de quão bem os fornecedores planearam as futuras necessidades do setor."
P. O que é importante sobre as empresas na categoria Líderes?
Jude: "As empresas da categoria superior direita são geralmente aquelas que satisfazem as necessidades atuais dos seus clientes. É importante realçar que os fornecedores podem ter excelentes resultados com a simples satisfação das necessidades atuais, pelo que seria um erro considerar este gráfico um concurso de beleza. Nem todas as organizações ambicionam estar na "vanguarda" da inovação tecnológica. Algumas prefeririam implementar capacidades sólidas de videovigilância capazes de superar o teste do tempo, em vez de soluções de alta tecnologia que possam exigir atualizações e modificações consideráveis ao longo do tempo. Dito isto, os fornecedores que se enquadram na categoria de "líderes" no canto superior direito tendem a ser empresas que equilibram eficientemente a satisfação das necessidades atuais com a antecipação das futuras. Demonstraram um elevado grau de pensamento estratégico no que diz respeito ao desenvolvimento de produtos e capacidades concebidos para satisfazer necessidades novas e emergentes, em vez de simplesmente dar resposta às necessidades do momento."
P. Vê alguma semelhança e/ou diferença entre a indústria da videovigilância e outras indústrias? E tendências?
Jude: "Claro que sim. O mercado da videovigilância está estreitamente alinhado com o mercado mais abrangente da Internet das Coisas (Internet of Things - IoT), especialmente à medida que as câmaras se tornam mais inteligentes, com maior processamento e armazenamento na periferia da rede. Além disso, as aplicações de gestão de informações de segurança física (PSIM) e de inteligência empresarial são ambos mercados com um elevado grau de sinergia com a videovigilância. Espera-se que ambos cresçam significativamente no futuro, o que provavelmente também é bom para o mercado da videovigilância. O mercado de PSIM é particularmente interessante, uma vez que os fornecedores de PSIM só começaram a ligar-se à análise de vídeo em 2023, mas agora as informações do vídeo estão a ser utilizadas para proporcionar uma maior consciência situacional e estão a servir como fonte de dados substancial para as plataformas PSIM.
O ecossistema de segurança física evoluiu consideravelmente apenas nos últimos anos, à medida que as organizações procuram tirar o máximo partido das respetivas soluções de vídeo. As empresas de hoje procuram cada vez mais integrar dados de vídeo com outras fontes de telemetria para satisfazer as necessidades de segurança e orientadas para o negócio; e, desde 2023, foram intensificados os esforços no sentido de integrar esses dados sob o leque mais abrangente da segurança física. Será algo a manter sob um olhar atento para o futuro."
P. Qual é o seu principal conselho para os compradores de tecnologia de câmaras de vigilância? E porquê?
Jude: "Antes de comprarem câmaras, as organizações precisam de compreender claramente as aplicações e capacidades de que necessitam atualmente, mas também precisam de ter em consideração de que forma podem querer usar os dados de vídeo no futuro. As câmaras de vídeo possuem uma vida útil esperada mais longa do que a de outros dispositivos - por norma, as organizações que adquirem câmaras esperam que durem pelo menos uma década antes de as substituir, o que significa que esses dispositivos têm de ser capazes de satisfazer um conjunto de requisitos em evolução ao longo de um período de tempo prolongado. Nenhuma empresa quer ficar bloqueada numa linha de produtos que já não satisfaça as suas necessidades - ou perceber, apenas três anos após a compra de um conjunto de câmaras, que precisam de ser substituídas por um modelo mais recente e mais avançado. Este não é um mercado em que se deva entrar de forma impulsiva. É essencial dedicar algum tempo a compreender as necessidades da empresa e identificar os fornecedores e dispositivos capazes de satisfazer essas necessidades, tanto no presente como no futuro."
Sobre Mike Jude
Mike Jude é o Diretor de Investigação para a prática de Segurança de Terminais da IDC, no Grupo de Segurança e Confiança, e antigo Diretor de Investigação para Videovigilância e Tecnologia de Visão Computorizada. A principal área de investigação do Dr. Jude inclui soluções que defendem dispositivos informáticos pessoais, servidores físicos e dispositivos móveis contra um leque cada vez mais vasto de ciberataques. As funções abrangidas incluem a prevenção e proteção de dispositivos de utilizadores finais, segurança de servidores, deteção e resposta, gestão de ameaças móveis e o crescente leque de capacidades na proteção da vida digital dos consumidores. Com base na sua experiência em regulamentação de telecomunicações e conceção de infraestruturas de redes de dados, a investigação do Dr. Jude também se foca nas implicações regulamentares e de política pública da cibersegurança no terminal.